Mortalidade do câncer de mama pode diminuir 25% com mamografia de rotina a partir dos 40 e 15% com alimentação adequada
O câncer de mama é o segundo mais incidente no mundo, correspondendo a mais de 24% dos casos, atrás apenas do câncer de pulmão. No Brasil, é o tipo de tumor que mais acomete as mulheres e a estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) para o triênio 2020-2022 é de 66 mil novos casos. Mas esse quadro pode ser reduzido, de acordo com a oncologista Danielle Laperche.
“A boa notícia é que dois estudos recentemente publicados em periódicos científicos apontam que a alimentação e a mamografia de rotina a partir dos 40 anos podem ajudar a reduzir a mortalidade de mulheres”, explica a oncologista Danielle Laperche.
ESTUDO
Um estudo feito por pesquisadores da Queen Mary University of London com mais de 160 mil mulheres, acompanhadas ao longo de mais de 20 anos, foi publicado na revista científica The Lancet e trouxe novas evidências de que a realização anual da mamografia de rotina a partir dos 40 anos de idade ajuda a reduzir a mortalidade do câncer de mama. Os resultados mostraram ainda que as pacientes que fizeram o exame mais precocemente tiveram índice de mortalidade por câncer de mama cerca de 25% menor.
Segundo os autores do estudo, a redução das mortes é atribuída ao diagnóstico precoce do câncer, que em geral progride mais rapidamente em mulheres jovens. Para alguns especialistas, a diminuição da mortalidade entre 10% e 15% já seria um argumento relevante para a redução da faixa etária recomendada.
ECONOMIA
Além disso, uma pesquisa feita pela Universidade Federal de São Paulo mostrou que o procedimento pode trazer economia, levando em conta que no Brasil o custo do tratamento de duas a quatro mulheres com câncer de mama em estado avançado equivale ao do rastreamento de mil mulheres. O diagnóstico precoce diminuiria o número de mastectomias e o uso da quimioterapia, procedimentos caros e que afetam a qualidade de vida do paciente no longo prazo.
“Esse estudo é importante porque comprova a redução de mortalidade sem aumento de diagnósticos falsos positivos. Aqui no Brasil, a Sociedade Brasileira de Mastologia preconiza periodicidade anual a partir dos 40 anos, enquanto o governo orienta exames a cada dois anos, a partir dos 50 anos. Um desses padrões deve ser seguido e acredito que o ideal seria mamografia para mulheres mais jovens, uma vez que no Brasil elas representam um número muito importante dos casos de câncer de mama, mas ainda temos a aderência ao rastreamento bem abaixo do ideal”, afirma a oncologista.
ALIMENTAÇÃO, GORDURA CORPORAL E RISCO DE CÂNCER
Outro estudo publicado pelo Journal of Clinical Oncology (JCO), mostrou o impacto que a alimentação pode ter a longo prazo em relação à mortalidade nos casos de câncer de mama. Depois de acompanhar 48 mil mulheres por 20 anos, os pesquisadores concluíram que adotar um padrão alimentar com baixa ingestão de gordura, rica em vegetais, frutas e grãos pode reduzir em 15% a mortalidade em mulheres que, após a menopausa, desenvolvam câncer de mama.
O excesso de tecido gorduroso na mulher causa aumento do risco de doenças cardiovasculares, diabetes e aumenta a produção de hormônios sexuais femininos, o que aumenta o estímulo nas células mamárias. Em longo prazo, esse estímulo prolongado pode aumentar o risco relativo de câncer de mama, independente dos demais fatores.
“Padrão estético muda, o que não muda é conceito de saúde. Existem alguns marcadores que conferem risco muito provável de gordura visceral causando doenças. Esses sinais vão além do cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) e são indicadores de prováveis alterações endócrino metabólicas, como percentual de massa gorda e massa magra, mais depósito de gordura em região de tronco, aumento de pelos, acne, oleosidade da pele e do cabelo, irregularidade menstrual”, diz a médica endocrinologista Fernanda Braga.
Os fatores que devem ser observados são o IMC acima de 27; o percentual de massa gorda 30% (medidos por bioimpedância, DXA ou adipometria); ganho de peso progressivo maior que 5% por ano e a relação entre as medidas da cintura e do quadril com resultado igual ou maior que 0,85 para mulheres e 0,90 para homens, o que pode causar risco cardiovascular. Para calcular é fácil: divida a medida da circunferência da cintura em centímetros pela medida da circunferência do quadril em centímetros.